O editorial intitulado “Luxury”, capitaneado pelo fotógrafo Steven Meisel e estrelado pela übermodel Gisele Büdchen vem causando polêmica no mundo virtual. O ensaio estampou a capa e o recheio da Vogue italiana do mês de Junho e capa do especial de beleza do mês de Julho da Vogue Brasil.
O motivo de tantas opiniões divergentes, convergentes, animosas foi, em especial, uma imagem onde a modelo aparece simulando um tratamento facial, um lifting, em que se utiliza o sangue da pessoa submetida ao tratamento. Alguns acharam que Gisele teria ferido as causas sociais que defende ao participar de uma ode à carnificina consumista. Outros, como o próprio site oficial da revista no Brasil, dizem ser uma crítica “às mulheres fissuradas em conquistar um padrão de beleza ideal a qualquer custo”.
Em todo o ensaio fotográfico Büdchen encarna uma vítima da moda – que inclui, logicamente, as tendências relacionadas à beleza e à estética – orgulhosa de inserir literalmente seu corpo nesse “museu de grandes novidades”, em que a tendência de hoje caduca amanhã, antes mesmo dos resultados aparecerem com proeminência. Entretanto, a foto que mais chocou a alguns foi realmente a do famigerado lifting. Numa rápida análise semiótica da imagem (estudo das simbologias nela presente), observa-se uma personagem, bela e ricamente adornada,  num ritual que parece corriqueiro ao seu cotidiano, ao observar tranquilamente o i-phone ao mesmo tempo em que o suposto sangue cobre parte do seu rosto.
O mais fantástico de tudo é que, para o bem e para o mal, ou melhor, para a crítica e para o louvor, a imagem detém um poderoso apelo discursivo. Para a crítica, a displicência diante do tratamento estético seria a alegoria de uma sociedade alienada pelo consumismo desenfreado. Para o louvor, a impressão de normalidade que se passa imbui de confiança e atrai e seduz as admiradoras e detentoras do estilo de vida Vogue.
A revista, sabemos, não é nenhuma sacerdotisa que fez voto de humildade e pobreza. Ao contrário, é uma das maiores referências de moda conceitual e, sobretudo, comercial do mundo e movimenta fortunas com seus editoriais, matérias e colunas de opinião. Todavia, devemos lembrar que sacrifícios pelo culto à aparência não são novidade. O que já não se fez desde a antiguidade pela beleza? Quantos sacrifícios foram engendrados? Quanto já foi gasto com esses rituais? Como no famoso livro “O retrato de Dorian Gray”, do escritor inglês Oscar Wilde, de tudo já se teve coragem de fazer em nome da beleza e da juventude.